Por que não queremos pagar pela taxa de serviços em botecos e restaurantes?

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É comum frequentarmos restaurantes de bairro ou botecos com amigos e familiares, mas, na hora de pagar, muitos reavaliam o valor da conta, questionando se devem recompensar o garçom pelo atendimento. Em alguns momentos, paira um certo constrangimento no ar, principalmente quando se ouve a pergunta “pode cobrar o valor total?”.

Embora a gorjeta exista desde a Idade Média, por que os 10% a mais ainda não se enraizaram em nossos costumes? Em diversos bares, a prática é pegar a bebida, pagar e pronto. Em restaurantes self-service e aplicativos de entrega, a taxa também não existe.

Devemos também lembrar que outra dificuldade de pagamento é o fato da classe média e outras menos favorecidas estarem sofrendo com a superinflação dos últimos anos, tornando a economia de qualquer porcentagem um estilo de vida. Ainda assim, apesar das dificuldades do dia a dia, sair de casa para ser servido é um refúgio necessário, onde, ironicamente, parece que tudo se economiza, menos a consciência.

A taxa de serviço paga pelos clientes não isenta os patrões de suas obrigações. A lei garante que a gorjeta seja repassada aos funcionários, não podendo ser usada para pagar despesas do estabelecimento. Isso deve ser embutido no preço do produto, não descontado do extra que os atendentes recebem. Infelizmente, a lei não é cumprida por alguns lugares, especialmente um conhecido por seu frango frito. Nestes casos, o cliente consciente pode pagar a taxa diretamente ao garçom e à casa apenas o valor da comida e da bebida.


O mau atendimento em lugares da cidade não vem necessariamente do baixo salário, mas também da inexperiência de jovens jogados em seus primeiros empregos sem treinamento adequado. Tudo que não se investe se degrada. Um mau atendimento pode facilmente destruir a reputação de um lugar. Por isso é preciso prepará-los, remunerá-los e respeitá-los.


Garçons e outros profissionais de atendimento ao público estão entre os mais mal remunerados. A gorjeta não é apenas uma complementação salarial, mas um incentivo ao bom atendimento, que, como sabemos, deixa a desejar em muitos lugares. O trabalho desses "peões das lamúrias alheias" não recebe a atenção que merece, pois é mais fácil pagar por um copo de cerveja do que por um terapeuta. O garçom lida com todo tipo de gente, tornando seu trabalho muito além de anotar pedidos e servir mesas. Para todo trabalho extra, nada mais justo do que um pagamento, pois a demanda por bom atendimento vem do cliente, não do estabelecimento.

A verdade é que mesmo em tempos vacas magras (que afetam a nossa generosidade), imagine o quão barato se torna uma taxa para se ter o conforto de não precisar se levantar o tempo todo para buscar um copo, talheres, molhos em filas ou qualquer outra coisa que interrompa uma conversa relaxante em um boteco. O extra que se paga pelo atendimento é realmente tão dispensável? Ser bem atendido parece ser um luxo que está em falta na cidade e uma das únicas formas de fugir a esta triste regra é literalmente pagar por isso. 

*Chal Emedrón, pseudônimo de Carlos Medeiros,  licenciado em Letras pela Universidade Federal da Bahia, apaixonado por cultura pop e comportamento humano.