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A pergunta que ecoa na programação artística de Irecê é: "Pode axé no São João?”. Alguns torcem o nariz, defendendo a pureza das raízes juninas. Outros abrem os braços para a diversidade, reconhecendo que a festa precisa se renovar para atrair novos públicos e fomentar a economia local.
Defensores da tradição argumentam com fervor pela preservação das raízes juninas, defendendo a pureza do forró, das quadrilhas e das comidas típicas. Argumentos válidos, sem dúvida, que celebram a importância de manter viva a memória do povo, as histórias contadas através das músicas e a alegria contagiante das danças. Porém, a tradição não se limita a um museu de cera. Ela é um organismo vivo, que se reinventa e se adapta ao longo do tempo. O São João de Irecê, para se manter vibrante e relevante, precisa abraçar a diversidade e se conectar com as novas gerações. Então pode ou não pode?
Sobre esse questionamento, os encarregados pela festa já deram um veredito: pode sim, e deve! As músicas tradicionais do São João são importantes, sim. Elas guardam a memória do povo, contam histórias e celebram a vida. Contudo a tradição não se fossiliza, ela se reinventa. O axé e o pagode também fazem parte da nossa cultura, traduzem a alegria do povo brasileiro e animam qualquer festa.
E vamos ser sinceros: a única chance que a maioria da população de Irecê tem de assistir shows de grandes artistas do segmento é no São João. Imagine o impacto na economia local se nomes como Léo Santana, Timbalada e Raça Negra pisarem no palco da festa? Hotéis lotados, restaurantes bombando, comércio fervilhando. A cidade se tornaria um destino turístico ainda mais atraente, gerando renda e oportunidades para todos.
A diversidade não dilui a tradição, ela a enriquece. O São João de Irecê pode ser um mosaico de ritmos, onde o forró se junta ao axé, o pagode se mistura com o sertanejo e a sanfona se harmoniza com o tamborim. É a festa do povo, para o povo, com a cara do povo.
Ademais, ainda que haja essa diversidade na festa, os forrozeiros tradicionais não foram esquecidos. Em uma programação pensada cuidadosamente pela Secretaria de Cultura traz o que é da terra e que ganha uma cor especial no São João para que nada se subtraia, mas se some ao dito “Melhor São João do Mundo”.
Então, vamos abrir as portas para a inovação, sem esquecer das nossas raízes. Que o São João de Irecê continue sendo um encontro de gerações, um celeiro de cultura e um palco para a alegria do povo. E que o axé e o pagode também façam parte dessa festa, porque a vida é curta demais para se limitar a um só ritmo.
Viva o São João de Irecê! Viva a diversidade!
*Chal Emedrón, pseudônimo de Carlos Medeiros, licenciado em Letras pela Universidade Federal da Bahia, apaixonado por cultura pop e comportamento humano.