Jumentos correm risco de extinção: abate de animais cresceu 35 vezes em 7 anos

Animal muito conhecido dos sertanejos e muito utilizado no desenvolvimento do próprio país, principalmente em pequenas cidades sertanejas para tração e locomoção, o jumento corre risco de extinção. Este tema tem causado uma disputa judicial que se estende há 8 anos na Bahia.

A causa da possível extinção dos jumentos é o alto abate e a alta exportação do animal para a China, onde é utilizado para criação de uma substância que trata desde anemia à impotência. A China é a maior compradora de jumentos e a Bahia é a maior exportadora do animal para o país.

Desde 2016 o abate vem crescendo no Brasil. A pele deles é exportada e utilizada para a produção de eijão, um dos produtos amplamente utilizados na medicina tradicional asiática. O "remédio" faz parte de tratamentos de saúde como menstruação irregular, anemia, insônia e impotência sexual. Uma peça de couro pode ser vendida por mais de 4 mil dólares, o que torna o comércio um tanto lucrativo para criadores de jumento do estado. O eijão é uma subtância gelatinosa feita através da pele dos jumentos.

Além disso, a carne ainda é enviada para o Vietnã, para ser consumida.

A disputa judicial é travada entre ativistas que lutam pelo fim do abate dos animais e os comerciantes que defendem a atividade econômica.

Dados

Dados do Ministério da Agricultura, em um levantamento feito pelo SBT News aponta que nos últimos 7 anos, os abates aumentaram em 3493% em relação aos 7 anos anteriores. De 2017 a 2024, 278.821 animais dessa espécie foram mortos apenas em abatedouros legais. Já de 2009 a 2016, 7.760 foram abatidos.

Só em 2021, 62.978 animais foram mortos e levados para China, Hong Kong e Vietnã.

No entanto, a demanda atendida, sendo terapêutica ou estética, não tem comprovação científica enquanto os jumentos nordestinos estão na mira do mercado internacional. A carne do animal para consumo também é explorada, mas em menor escala.

O abandono

O grande resultado deste abandono de jumentos vem com a troca do trabalho desses animais por veículos motorizados, o que acarretou na falta de uso do serviço dos jumentos e os deixou sem utilização significativa em fazendas ou em pequenas cidades onde antes era muito utilizado.

Muitos desses animais foram realmente abandonados pelos seus proprietários, o que aumentou a quantidade de jumentos vagando em estradas em busca de alimentos. Em 2016, o governo da Bahia tomou uma decisão radical e controversa: para conter os acidentes de trânsito, o Estado recolheu 300 animais nas ruas e os abateu.

Outros não tiveram a mesma sorte.

Uma reportagem da BBC News Brasil de 2019, mostra a realidade que alguns animais sofreram em Canudos e em Itapetinga, cerca de 200 a 1.000 desses animais morreram de inanição nas fazendas em que eram mantidos. Outros já estavam completamente debilitados pela fome.

À época, a polícia descobriu que a fazenda havia sido arrendada para os chineses que levariam os animais para um frigorífico onde depois eles seriam abatidos.

A resposta econômica foi a utilização dos bichos na indústria de uma forma completamente diferente, ou seja, como insumos para a indústria farmacêutica e alimentícia de países distantes.

No país, vale destacar que apenas a raça do Jumento Pêga é reconhecida, não estando em risco de extinção pelo valor do animal no mercado, que varia desde R$ 5 mil a R$ 1 milhão. Mas há relatos de animais que foram vendidos para a indústria por valores que variam de R$ 30 a R$ 100.

O Brasil não tem cadeia produtiva de jumentos. Ou seja, eles não são criados para o abate, como os bovinos, por este motivo especialistas afirmam que a possibilidade de extinção do animal é uma probabilidade a ser reconhecida.

Em 2023, O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) publicou no final de agosto chamamento público para apoiar pesquisa de produção de colágeno de jumento sem abate animal.

O fim do abate de jumentos foi uma das propostas sociais mais votadas entre os temas relacionados ao MMA no Plano Plurianual (PPA) Participativo. A pesquisa pode contribuir para o fim da prática e, ao mesmo tempo, gerar renda para o Nordeste.

Segundo a MMA, a população de jumentos no Brasil está em declínio acentuado, pondo a espécie em perigo de extinção devido à exploração extrativista predatória. Assim, a pesquisa prospectiva busca fomentar técnicas de produção de colágeno de jumento sem abate animal, por meio da exploração de métodos como agricultura celular e fermentação de precisão.

Apesar disso, esta foi a última notícia divulgada pelo governo acerca do assunto.