HIV: o vilão menos perigoso

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Dia 1º de dezembro foi o Dia Mundial de Luta contra a Aids, uma data que deveria inspirar reflexão, mas, para muitos, é apenas mais um marcador no calendário. Afinal, lutar contra a ignorância é tarefa inglória, especialmente quando o preconceito parece ter a saúde de ferro, enquanto o bom senso vive em eterna convalescença.

O HIV, meus caros, é um vírus. Apenas isso: um conjunto de partículas microscópicas que não escolhe hospedeiros com base em caráter, credo ou classe social. Já o preconceito, ah, esse sim tem preferências. Ele se agarra com força aos medíocres, que, incapazes de compreender a ciência, preferem brandir o estigma como espada, desferindo golpes que ferem mais que qualquer doença. Não há antirretroviral capaz de curar corações endurecidos pela intolerância.

Quantos já não perderam amigos, famílias, empregos e dignidade, não por causa do vírus, mas por causa das mentes pequenas que o rodeiam? O preconceito é como aquela visita indesejada que, ao entrar pela porta, impede que o amor e o acolhimento entrem junto. E assim, afastamos quem mais precisa de apoio. O HIV destrói células; o preconceito destrói vidas.

Freddie Mercury e Cazuza eram gênios, mas, para alguns, tornaram-se apenas “vítimas do próprio comportamento”. Esses julgadores, munidos de sua moral de esquina, esquecem que o HIV não escolhe suas vítimas com base em padrões morais. E, enquanto apontam dedos, ignoram que o maior mal não é o vírus, mas o abandono a que submetem quem mais precisa.

A ciência, coitada, segue fazendo sua parte. Temos hoje ferramentas como a PrEP (profilaxia pré-exposição), um medicamento que previne a infecção pelo HIV antes do contato, e a PEP (profilaxia pós-exposição), que reduz o risco após uma possível exposição ao vírus. Para quem vive com HIV, os medicamentos antirretrovirais (TARV) permitem que se tenha qualidade de vida e que o vírus seja controlado a ponto de não ser transmitido.

Em Irecê, o centro de acolhimento tem se destacado ao oferecer esses serviços de forma acessível, garantindo que a população tenha acesso à PrEP, PEP e ao TARV, além de acompanhamento psicológico e social. Um verdadeiro exemplo de como o combate ao HIV vai além da ciência: é também uma luta pela dignidade e pelo acolhimento.

No entanto, como combater a ignorância, que insiste em se reproduzir com uma eficiência que nem os vírus mais letais conseguiram alcançar? A sociedade civil, com suas campanhas e acolhimentos, luta para iluminar o que o preconceito insiste em manter na sombra.

No fundo, o preconceituoso é o verdadeiro doente. Ele teme o que não entende e, na tentativa de se proteger de seu próprio medo, ataca quem deveria abraçar. Se o HIV é um vírus democrático, o preconceito é um tirano. Talvez, como diria nosso querido Machado, o preconceituoso mereça compaixão, pois sofre da pior das enfermidades: a burrice moral, que o impede de enxergar a humanidade no outro.

Deixemos claro: tratar o HIV sem estigmas não é apenas uma questão de saúde pública, mas de decência. É um apelo àquilo que nos torna humanos. Porque, enquanto continuarmos julgando, estaremos não apenas combatendo o inimigo errado, mas nos condenando à própria mediocridade.