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A grande surpresa das premiações de animação, atual vencedor dessa categoria no Globo de ouro e indicado ao Oscar, Flow caiu nas graças dos telespectadores por sua história de ser um filme da Letônia, sem diálogos, de baixo orçamento executado na plataforma Blender e ainda sim bater de frente com os caríssimos orçamentos de Divertida mente 2 e Robô Selvagem nas premiações.
Flow teve como seu grande mentor em quase todas os departamentos como direção, roteiro e montagem, o diretor Gints Zilbalodis, que propôs a história de um gato, inicialmente solitário que numa inundação em suas terras, precisa sobreviver em um barco ao lado de uma capivara, um cachorro e outros animais pelo caminho, se transformando em um filme com temática de companheirismo, ainda que respeite todas as características de seus animais ali representados, gerando algumas intrigas decorrentes de suas animalidades.
O filme se desenrola então a partir desses convívios estabelecidos. Inicialmente os personagens não necessariamente se gostam, mas vão se ajudando em determinadas circunstâncias, enquanto as imagens apresentam cenários contemplativos, mas que também são capazes de gerar tensão à medida que a inundação vai prosseguindo e eles precisam entrar em contato com a água ou as ruinas deixadas por essa mudança climática que tanto tenta alertar.
Um dos pontos mais altos da fotografia do filme é a mescla entre uma câmera que segue os personagens e se estabelece às vezes quase como a câmera de um videogame, um dinâmica de um jogo indie que o telespectador aos poucos mais descobre sobre o mundo, junto de nosso gatinho. Utilizando de diversas referências arquitetônicas sejam gregas, japonesas, ou até a própria imagem do protagonista, o filme cria um universo único, ainda que muito inidentificável.
Indo para o ato final, Gintz busca brincar com elementos do fantástico nessa temática de mudança climática, fazendo uma das despedidas entre personagens mais bonitas e criativas dos últimos anos, uma verdadeira pintura à lá Van Gogh, como também logo em seguida uma das mais cruas e tristes gerando um sentimento de impotência em tela. Contudo o saldo ainda é de uma jornada construtiva, com o gato que sempre olhava seu reflexo na poça sozinho, agora possuindo companheiros, até o momento o meu favorito entre os indicados ao Oscar no geral.