A escala 6x1 e o paraíso perdido da produtividade

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Ah, o mundo encantado das jornadas intermináveis e metas impossíveis de alcançar! Nada como um bom velho 6x1 para dar aquele tchan no cansaço e transformar a vida em um eterno "quase lá"! A gente já passou por tantas revoluções industriais, já inventou a internet, já colocou um homem na lua... E ainda assim, teimamos em manter essa jornada que mais parece castigo divino. É como se a gente vivesse numa novela mexicana, onde o mocinho trabalha de sol a sol e a vilã é a dona do mundo. Só que na vida real, quem sofre as consequências é o trabalhador.

Claro, sempre tem aquele grupo de defensores da produtividade a qualquer preço, aqueles que juram que reduzir a jornada de trabalho é o equivalente a pedir para a economia ir direto para o abismo. A ideia de que menos trabalho significa menos lucro é um clássico que nunca sai de. Até quando é preciso sacrificar nossa saúde mental e física pelo bem do crescimento econômico desenfreado? É como se como resposta a essa indagação, o mundo gritasse de volta na nossa cara: quem precisa de qualidade de vida quando se pode ter mais dinheiro? 

A ideia de que passar mais tempo no escritório é sinônimo de mais produção é um conto de fadas moderno. Estudos, esses chatos que insistem em "provar" as coisas, mostram que trabalhar até cair de exaustão só faz a produtividade despencar mais rápido do que as ações daquelas empresas que dizem "nós valorizamos nossos funcionários!" mas colocam a escala 6x1 como se fosse um prêmio. Acredite, a tal jornada exaustiva é mais cansativa que maratona de série de 10 temporadas. E sobre o famoso "trabalhador brasileiro que é preguiçoso", bem... isso é só um mito criado para manter a engrenagem rodando. Vamos combinar: se você acha que alguém vai trabalhar feito um escravo por medo de ser demitido, você provavelmente está assistindo demais a novela das 8.

Agora, claro, sempre tem a galera que acha que negociação coletiva vai resolver tudo. "É só negociar, gente!" Ok, mas adivinhem? A negociação coletiva muitas vezes se resume a um diálogo entre um empresário que nada em dinheiro e um trabalhador que mal consegue pagar a conta de luz. A verdade nua e crua é que a "flexibilização da jornada" na prática significa "produza mais, trabalhe mais, viva menos". 

A boa notícia é que existe uma luz no fim do túnel (não, não é a luz do fim do expediente). Que tal uma jornada de 36 horas semanais com uma escala 4x3? O que isso significaria?! Quem não gostaria de mais tempo para ir ao parque, curtir a família, ou até mesmo tentar descobrir o que é um "hobby" (aquele conceito quase perdido no meio do expediente)? E adivinhem? Isso também ajudaria a economia, porque, claro, com mais tempo livre, o povo vai gastar mais, gerar mais emprego, e quem sabe até comprar um presente para o chefe.

Mas aí vem uma preocupação que parece até genuína. “e a carga tributária?" Vamos lá, amigos, não vamos colocar tudo na conta do pobre coitado do imposto. Ok, a carga tributária no Brasil é um pesadelo, mas usar isso como desculpa para manter a tortura do 6x1 é meio que jogar a toalha, né? O ponto é: se os países que reduziram a jornada estão crescendo, isso não é por mágica, não. Eles têm uma carga tributária menor? Sim! Mas também têm políticas públicas mais eficazes, mais investimentos e, quem diria, uma visão mais moderna do que é "produtividade". 

No Brasil, onde o pequeno e médio empresário já sofre com uma carga tributária altíssima e ainda tem que pagar a conta da saúde mental de seus empregados, fica difícil, eu sei! Mas, cá entre nós, qual o incentivo para um trabalhador ter qualidade de vida, se o empresário tem que fazer malabares para não quebrar todo mês? Vai ser difícil dar essa equação por encerrada sem um novo modelo de trabalho.

E quanto à ideia de que falta a colocação do Congresso? Claro, sempre tem gente que acha que um bom debate no Congresso vai resolver tudo. Como se uma boa conversa sobre como "os pequenos empresários não vão sobreviver" fosse suficiente para mudar a realidade de um trabalhador exausto. O que precisa ser discutido é o modelo de trabalho atual, que, adivinhem, já está ultrapassado! Qual o futuro do trabalho em um mundo onde, em vez de evoluir, a gente insiste em manter o sistema que vai contra o que a ciência já provou? A discussão é mais que válida, mas até uma solução ser encontrada, quem é que vai sair ganhando? 

E se alguém achar que os países que adotaram jornada reduzida estão quebrando por conta disso, só posso sugerir uma pesquisa um pouco mais profunda. Quando você descobre que lá, as pessoas não trabalham meio ano para bancar o estado, percebe que a solução está em equilibrar as coisas. Menos jornada, mais produção, mais tempo para o trabalhador consumir, estudar, melhorar, criar. E, sim, mais gente contratando. A receita é bem simples, a parte difícil é convencer quem ainda acredita que a jornada exaustiva é a única chave para o sucesso (ou pelo menos para manter os velhos sistemas funcionando). 

Portanto, a luta pela redução da jornada de trabalho é, na real, uma luta pela dignidade. Estamos pedindo por um futuro onde o trabalho não seja um castigo diário, mas uma parte da nossa vida que, veja só, contribui para o nosso bem-estar e para uma sociedade melhor. E já que falam tanto para os pobres se sacrificarem pela economia, agora chegou a vez de todo e qualquer empresário fazer o esforço de dar mais dignidade ao seu funcionário, nem que seja em nome da pátria!

*Chal Emedrón, pseudônimo de Carlos Medeiros, licenciado em Letras pela Universidade Federal da Bahia, apaixonado por cultura pop e comportamento humano.