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Que o Brasil é terra de todos os paradoxos, já temos plena consciência... Contudo sempre há espaço para surpresas. Aqui, quem tenta dar o golpe quer, com um charme digno de oscar, a tal da anistia, com choro diante das câmeras e roteirinho meia boca e tudo. Enquanto o preço da gasolina – ah, a gasolina – sobe mais rápido que o prestígio de um influencer sem causa. Mas não nos enganemos, a narrativa do país não se escreve apenas com tintas de escândalos e inflação, e é necessário um olhar atento para perceber o que realmente está por trás de todo o teatro montado.
Comecemos pela cena dos golpistas que agora pedem perdão, como se tivessem cometido o pecado de um dia de fúria em vez de uma tentativa explícita de destruir a democracia. Lula, com a precisão de um cirurgião, não deixa dúvida: o direito de defesa é inalienável, mas a anistia, essa é outra história. Afinal, quem tenta assassinar figuras públicas e, ainda assim, clama por inocência, como se a tentativa de golpe fosse uma mera confusão de final de festa, não pode esperar ser tratado com tapinhas nas costas.
Diz o presidente: “Eles que paguem pelas mazelas que fizeram”. E com razão! A tentativa de destituir um governo eleito não é algo que se apaga com um gesto de perdão – é um capítulo que, por mais que o oposto clame pelo esquecimento, merece uma revisão rigorosa da História. Sim, todos têm direito à defesa, até mesmo Bolsonaro. Mas aqui está o detalhe importante: o direito de defesa não significa abrir as portas para um perdão prematuro que minimiza o peso da tentativa de subverter a ordem democrática. A narrativa de golpe precisa ser tratada com seriedade, e não com uma canetada que dissolva responsabilidades.
Falemos agora da inflação e do preço dos combustíveis, questões que transcendem os números e tocam diretamente a vida do povo, que vê no preço da gasolina uma metáfora da própria instabilidade política. Durante o governo Bolsonaro, os preços dos combustíveis, regidos pela lógica neoliberal da Petrobras (leia-se: seguir a cotação internacional do barril de petróleo como se fosse um dogma sagrado), dispararam como se estivéssemos em plena Venezuela. O mercado dizia "pule", e o povo pulava, enquanto o governo pedia "patriotismo" dos donos de supermercados, sem dar uma solução prática para o problema. O preço dos alimentos subia, o salário estagnava, e o desemprego continuava seu desfile triste pelas ruas do Brasil.
E então, temos o governo Lula, que, ao retomar os estoques reguladores (como quem reconstrói um castelo de areia depois que as ondas neoliberalismo político ameaçaram destruir tudo), busca estabilizar os preços e garantir que a economia não se torne um pesadelo de preços inacessíveis. O governo Lula, apesar de ter que lidar com as subidas globais dos preços de alguns alimentos, não se esquiva do trabalho de reconstruir a capacidade de contenção de preços. Enquanto Bolsonaro, com seu governo de improvisos, parecia surdo aos gritos de quem sentia o bolso apertado, Lula tem dado sinais claros de que o controle de preços e o aumento real do salário mínimo não são meros slogans, mas ações concretas para combater a desigualdade que ainda pesa sobre os mais pobres.
Nesta distinção de lideranças políticas, podemos enxergar uma metáfora profunda: o governo Bolsonaro foi como um maestro que, ao invés de reger a orquestra, abriu mão do controle, deixando que as notas desafinadas da inflação e da pobreza ecoassem sem interrupção. Já Lula, com seu estilo mais cuidadoso e pragmático, tenta rearmonizar a a sinfonia econômica, com alguns acordes que ainda desafinam, é verdade, mas com a intenção clara de devolver o controle da batuta à população.
Acontece que, enquanto alguns se deliciam em tentar tirar o tapete da democracia, o povo, esse sim, se vê encarregado de carregar o peso da ressaca do golpe e das decisões econômicas ruins. Como um artista da fome, obra kafkiana , o brasileiro está preso na prisão do "preço do pão" e do "combustível", mas também não deve ser deixado à mercê das conveniências políticas daqueles que, ao invés de lidar com o presente, insistem em recuperar um passado que teima em não morrer.
Lula, com todos os seus defeitos e acertos, parece mais atento aos gritos da economia e da justiça social do que Bolsonaro jamais foi. Claro, ele não está imune a críticas – como qualquer governante – mas a retórica populista de Bolsonaro e sua cegueira econômica não podem, de maneira alguma, ser equiparadas às tentativas de reconstrução que o atual governo tenta promover. Não se trata de ser "Lulista" por ideologia cega, mas de entender que o Brasil, por mais caótico que seja, exige mais do que nunca uma liderança que olhe para o futuro e não para o abismo do passado. Por isso Lula, um velho lobo da política, mostra que governar não é sobre gritar “mito” ou “patriotismo” no twitter, mas reconstruir estoques, ajustar salários e segurar a onda dos preços. Não é perfeito — até porque todos os governos são parecidos em sua imperfeição, mas é a liderança que o Brasil precisa no momento.
Quem tentou dar um golpe quer anistia, mas não entende que a democracia é um rio que nunca para de fluir, só há o esquecimento, e isso é fato. Mas independente de lulistas ou bolsonaristas, é preciso ter em mente que é hora de escrever um novo ato, onde o povo – esse sim, protagonista – possa respirar e não apenas sobreviver. E isso não vem através de discursos políticos de terceira via, “nem esquerda e nem direita”, se quem sustenta a economia é o trabalhador e o povo do salário mínimo, é preciso haver um governante que esteja alinhado a esse pensamento, que outrora foi representada por Lula, mas que hoje precisa de um novo rosto, um novo histórico e uma nova trajetória.