Eleições: velhos esquemas, novas máscaras

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A corrida eleitoral se aproxima e, como de costume, as mesmas figuras carimbadas começam a desfilar suas promessas vazias e sorrisos ensaiados. A herança política que carregamos, no entanto, é um fardo que, muitas vezes, impede qualquer avanço significativo. Não é segredo que muitos dos que se perpetuam no poder o fazem não por mérito, mas por uma combinação nefasta de alianças e clientelismo. A pergunta que não quer calar é: até quando vamos tolerar mediocridade e oportunismo em nossas eleições?

Olhemos ao redor. Onde estão as pessoas do povo, aquelas que realmente conhecem as dificuldades do dia a dia? Cadê os indivíduos estudados, com valores sólidos e um verdadeiro desejo de mudança? Parece que a política tornou-se um jogo exclusivo para poucos, onde o ingresso é a cumplicidade e o compromisso é com o próprio bolso, não com o bem comum. É imperativo que questionemos essa lógica perversa e nos atentar para o fato de que, apesar de alguns rostos serem novos nas candidaturas políticas, os sobrenomes que carregam são antigos nela.

A necessidade de renovação política é evidente. Não podemos mais permitir que os mesmos sobrenomes dominem nossas câmaras municipais e assembleias legislativas, como se fossem dinastias feudais. Cada eleição deveria ser uma oportunidade para trazer novas ideias, novos rostos, novas perspectivas. Infelizmente, o que vemos é a perpetuação de uma oligarquia disfarçada de democracia.

Por que não conseguimos eleger líderes verdadeiramente comprometidos com o bem-estar coletivo? Talvez porque a estrutura do nosso sistema político esteja desenhada para favorecer aqueles que já estão no poder. É um ciclo vicioso que precisa ser quebrado. Para isso, é fundamental que o eleitorado se conscientize e se mobilize. É hora de pararmos de votar no “menos pior” e começarmos a exigir o melhor.

É preciso também um olhar crítico sobre a postura do próprio eleitorado. Somos, muitas vezes, cúmplices dessa tragédia política por nossa passividade e desinformação. Quantos de nós realmente pesquisamos o histórico e as propostas dos candidatos antes de votar? Quantos se deixam levar por promessas fáceis e populismo barato? A política não deve ser um terreno de troca de favores, mas sim um espaço de construção coletiva e de projetos a longo prazo.

Entre os inúmeros absurdos que caracterizam nossas eleições, a troca de favores por votos é, talvez, a mais repugnante. A prática de distribuir sacos de cimento, cestas básicas e outras benesses em troca de votos é um insulto à dignidade do eleitor e uma perversão da democracia. Essa barganha transforma cidadãos em meros receptores de esmolas, enquanto perpetua a miséria e a dependência. Em vez de políticas públicas estruturadas e sustentáveis, o que se oferece é um paliativo barato e indigno. A política não deve ser um mercado de favores, mas sim um campo de atuação para líderes comprometidos com o desenvolvimento e o bem-estar coletivo.

A educação política é uma das chaves para essa mudança. Um povo bem informado é um povo empoderado. É essencial que as escolas e as comunidades promovam debates e reflexões sobre cidadania e participação política. Precisamos formar cidadãos críticos, que saibam identificar a diferença entre um líder genuíno e um demagogo oportunista.

A renovação política não é apenas desejável, é uma questão de sobrevivência democrática. A cada eleição, temos a chance de redefinir os rumos da nossa cidade, do nosso estado, do nosso país. Não podemos mais adiar essa transformação. A hora é agora. Que cada eleitor se veja como um agente de mudança, como uma peça fundamental na construção de um futuro mais justo e próspero para todos. Que possamos, finalmente, nos libertar da herança política que nos prende e abraçar a esperança de uma verdadeira renovação.

*Chal Emedrón, pseudônimo de Carlos Medeiros, licenciado em Letras pela Universidade Federal da Bahia, apaixonado por cultura pop e comportamento humano.