As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do Irecê Notícias. Os conteúdos apresentados na seção de Opinião são pessoais e podem abordar uma variedade de pontos de vista.
Sendo a Comunicação um Campo Teórico e epistemológico relativamente novo, surgido na década de 1920 nos Estados Unidos com a Escola Norte- Americana, este texto teórico reflexivo procura relatar o percurso da Sociedade de Massa à Sociedade de consumo, com seus desdobramentos, o papel dos meios de comunicação neste processo e o lugar da Cultura na sociedade midiatizada.
Na era pré-Gutemberg e a invenção da imprensa, o conhecimento era limitado e restrito a determinadas classes, como o clero da Igreja Católica. O impacto do surgimento da imprensa com poder de reprodução pode ser comparado com o surgimento da linguagem e posteriormente da escrita.
Foi a imprensa, que permitiu, por exemplo, que os livros circulassem, revoluções como a reforma protestante, ocorresse e o iluminismo e renascimento viessem à tona, deixando para trás a Idade Média.
Já com uma imprensa consolidada no período moderno e o surgimento do rádio, da fotografia, do cinema e mais recentemente, da televisão, o mundo começa a vivenciar profundas transformações.
Os Meios de Comunicação de Massa emergem para interferir na vida das pessoas, a sociedade de massa que consome o rádio em períodos de guerras, o cinema como produto ideológico na Alemanha Nazista, por exemplo, a fotografia com impactos sobre os retratos e a pintura.
Se existiam os meios de comunicação, era necessário existir um Campo de apropriação teórica destes meios, um caminho epistemológico que desse conta de traduzir, estudar e interpretar estes meios.
Em um contexto de guerra, surgem os estudos da Comunicação da Escola Norte-Americana. A teoria Hipodermica, as abordagens empírico de campo e experimental e a teoria funcionalista. Com visões limitadas, mas pertinentes para aquele período, as Teorias da Comunicação da Escola Norte Americanana foram construindo o campo teórico que conhecemos hoje.
Na Alemanha Nazista, um grupo de estudiosos conhecidos por Escola de Frankfurt iniciam uma revolução no campo sociológico e comunicacional. Tem papel preponderante nesta Escola, Theodor Adorno e Horkheimer, que com o ensaio Dialética do Esclarecimento cunham a expressão Indústria Cultural, no qual todas as expressões e formas artísticas estavam a disposição de um consumismo exacerbado.
Na Inglaterra, os estudos culturais iniciados por Williams e Thompsom procuram analisar a sociedade e sua cultura. É uma perspectiva que enfatiza a atividade humana, a produção ativa de uma cultura, em vez de seu consumo passivo, como queria acreditar a teoria Hipodermica no conceito de um indivíduo atomizado, cujo emissor é 100% ativo e o receptor, 100% passivo.
Diante do exposto, neste percurso histórico, pode-se perceber que o consumo dos meios de comunicação sempre foram voltados inicialmente para os ricos, famílias abastadas que pudessem pagar. Foi assim com o rádio, o cinema, a fotografia, a imprensa e mais recente com a TV e a Internet.
A sociedade de massa consome em um primeiro momento como massa, e embora, passível de crítica, os meios de comunicação exercem grande influência sobre os indivíduos, como aponta Todd Gitlin em seu texto "Mídias sem limite".
Afinal, que sociedade é esta que passa por um processo de transição de uma sociedade de massa para uma mediatizada? Gitlin utiliza bastante o exemplo da televisão como um meio de grande impacto no que ele provoca com o título do capítulo 1: Supersaturação ou a torrente das mídias e o sentimento descartável.
Os termos utilizados por Gitlin em seu livro publicado em 2001 e traduzido para a língua portuguesa em 2002, torna-se atualizado.
Na TV por assinatura são centenas de canais a disposição, nas frequências de rádio, AM ou FM, nos canais de TV abertos, na produção cinematográfica em escala industrial que lança anualmente dezenas de filmes e a Internet alimenta através de seus próprios usuários, softwares sociais, em uma velocidade cuja capacidade humana está longe de assimilar.
Gitlin não foi só feliz com às expressões "Supersaturação" e a "Torrente de mídias", mas no que ele denomina de "sentimento descartável", tudo é rápido, veloz, efêmero, transitório. Tudo é fluído e pouco é absorvido, em suma, descartável.
A cultura do consumo, impelida pelos MCM tem inclusive, impactado nas relações interpessoais. Com a chegada da TV no Brasil, por exemplo, assistir a um programa televisivo era um acontecimento. Famílias, amigos e comunidades se reuniam em torno da "Caixa mágica", que trazia o mundo pra dentro de casa.
Hoje, com o processo de industrialização e barateamento das tecnologias, a situação se inverteu, não é mais cada casa que tem a sua TV, mas em muitas residências há um aparelho de TV em cada cômodo, gerando distanciamento e falta de diálogo.
Dentro da Pesquisa em Comunicação, um Campo novíssimo começa a emergir, a Cibercultura, que procura estudar as interações tecnológicas desta sociedade mediatizada e como se dá as relações homem- máquina.
Se os MCM aproximaram lugares, pessoas, culturas, também estes servem de instrumentos de dominação ideológica e etnocêntrica de uma cultura sobre a outra, a exemplo da indústria cinematográfica Norte americana, que exporta para o mundo, seus hábitos, seus valores, seu modo de vida.
Finalizando, Gitlin afirma que em uma sociedade ou país dos marcados, até os oponentes se marcam, ou seja, somos todos mediatizados, descobrir como lidar com estes fenômenos é o nosso desafio cotidiano.
*Juliano do Carmo é jornalista em multimeios
*Texto escrito em 2012 ainda enquanto estudante de Jornalismo no Campus III da UNEB como prova dissertativa da disciplina Teorias da Comunicação.