As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do Irecê Notícias. Os conteúdos apresentados na seção de Opinião são pessoais e podem abordar uma variedade de pontos de vista.
Primeiro, é crucial reconhecer que as necessidades dos PCDs e da comunidade LGBTQIAPN+* são distintas. Pessoas com deficiência física ou sensorial exigem adaptações estruturais e de acessibilidade para garantir sua autonomia e segurança no uso do banheiro. Já a comunidade LGBTQIAPN+, por sua vez, busca espaços livres de discriminação e preconceito, onde cada indivíduo possa se sentir seguro e respeitado para usar o banheiro que melhor represente sua identidade de gênero.
Ao agrupar esses dois grupos em um único espaço, a Prefeitura ignora as nuances de cada causa e cria um ambiente que pode gerar mais confusões acerca das necessidades de cada grupo. Pessoas com deficiência podem ter sua mobilidade comprometida por um banheiro lotado, enquanto membros da comunidade LGBTQIAPN+, podem não ver sentido em utilizar um banheiro que não esteja de acordo com o seu gênero especificamente.
Essa falsa inclusão também ignora a realidade da discriminação que ambos os grupos enfrentam. PCDs ainda lutam por acesso básico em diversos espaços públicos e privados, enquanto a comunidade LGBTQIAPN+, continua sendo vítima de violência e preconceito. Unificar seus banheiros não resolve esses problemas estruturais e pode até mesmo reforçar estereótipos negativos.
Como pagadores de impostos como quaisquer outros cidadãos, a Prefeitura tem o dever de garantir os direitos da dignidade humana de todos. Ao invés de soluções simplistas e ineficazes, como a unificação dos banheiros da diversidade com os banheiros PCDs, é necessário investir em medidas que promovam a verdadeira inclusão e o respeito à diversidade. A criação de banheiros neutros é um passo importante nessa direção, demonstrando compromisso com a construção de uma sociedade mais justa e equitativa para todos.
Sem dúvidas, o banheiro diferenciado pode ser uma pauta de ambos os grupos, contudo, para a psicóloga e especialista em direitos humanos Jaqueline Gomes de Jesus, banheiros individuais são a solução mais eficiente.
“O banheiro unissex como terceira opção não é uma pauta das pessoas trans, mas das pessoas transfóbicas que se incomodam quando uma mulher trans usa o banheiro feminino ou quando o homem trans usa o banheiro masculino”, diz em entrevista ao portal Revista Ensino Superior.
Contudo, enquanto o debate não avança na sociedade, diversos estudos comprovam a efetividade de banheiros neutros, por exemplo. Este tipo de banheiro unissex já é uma tendência em boa parte do globo e, muitas vezes, evita qualquer tipo de constrangimento. Esses espaços, livres de qualquer tipo de rotulagem de gênero, permitiriam que todas as pessoas, independentemente de sua identidade de gênero, orientação sexual ou deficiência, utilizassem o banheiro com segurança, conforto e dignidade, sem necessariamente ser marcado como um banheiro da diversidade, dando a ideia para a população heterossexual cisgênera* de que quem não é hétero, ou cis, deve ser colocado em outro banheiro.
É importante salientar que a luta por inclusão não é uma questão de tolerância, mas sim de justiça. Todos merecem ter seus direitos respeitados e poder utilizar os espaços públicos com segurança e dignidade. A Prefeitura precisa ouvir as demandas da população e implementar soluções que realmente atendam às necessidades de todos os cidadãos.
*Chal Emedrón, pseudônimo de Carlos Medeiros, licenciado em Letras pela Universidade Federal da Bahia, apaixonado por cultura pop e comportamento humano.